A Anbima, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, lançou nesta quinta-feira (28) um projeto para levar as discussões sobre sustentabilidade nas finanças para além do setor financeiro. Chamada de Rede de Sustentabilidade, ela funcionará como um fórum colaborativo sobre tendências globais relacionadas ao tema ESG (sigla em inglês para se referir a questões ambientais, sociais e de governança corporativa) e seus desdobramentos no setor financeiro e no mercado de capitais.
Diferentemente do que a associação vinha fazendo até então, as discussões da Rede serão abertas � participação de especialistas em sustentabilidade, acadêmicos, representantes da sociedade civil e também profissionais de instituições associadas. A ideia é ser um direcionador do mercado, produzindo ferramentas práticas e parâmetros para as empresas do setor avançarem na transição para um modelo econômico mais justo e sustentável.
“O Brasil tem grande potencial para ser parte importante da solução das crises globais por meio de projetos sustentáveis, como aqueles voltados para conservação e manejo das florestas e soluções baseadas na natureza e na redução de desigualdades”, comenta Cacá Takahashi, vice-presidente da Anbima e coordenador da Rede Anbima de Sustentabilidade.
Ele cita que uma pesquisa feita com associados em 2021 mostrou que há uma diferença grande de maturidade dos membros na agenda de sustentabilidade.
“Se já sabemos que a descarbonização da economia é um caminho necessário, como apoiamos o mercado de capitais para isso? Não basta apresentar relatórios e mais relatórios explicando os efeitos do clima sobre a agricultura ou sobre a distribuição de chuvas e não oferecer um curso de capacitação para os analistas de investimento, para que calculem a pegada de carbono dos portfólios, ou ferramentas que os auxiliem nas medições ou mesmo na harmonização das práticas entre as diferentes casas”, comenta o executivo.
Entre os exemplos de iniciativas de sustentabilidade que a entidade já lançou e que dão pistas do que esperam com o fórum está a definição de critérios para identificação de fundos sustentáveis, os chamados Fundos IS (Investimento Sustentável), e os com integração ESG na estratégia de investimento. Outro exemplo foi a elaboração de guia de ofertas para títulos de dívida ESG, o guia de operacionalização do crédito de descarbonização CBIO e a inclusão do tema nas provas de certificações e nos cursos do Anbima Edu.
Serão, inicialmente, quatro principais frentes:
- mudanças do clima e biodiversidade;
- direitos humanos e transição para uma sociedade mais justa;
- mecanismos e instrumentos financeiros;
- e Governança e liderança.
Cada um dos eixos terá um grupo de trabalho próprio, com coordenação de duas pessoas conhecedoras da agenda, uma da Anbima e outra independente. Do lado da Associação, Denísio Liberato, que também é membro do conselho da organização internacional Princípios para Investimentos Responsáveis (PRI), Luiz Sorge, Fernanda Camargo e Julya Wellisch.
De fora, estarão � frente das discussões Denise Hills e Sonia Consiglio, conselheiras independentes e especialistas em ESG, além de Ana Lúcia de Melo Custódio, diretora-adjunta do Instituto Ethos e Annelise Vendramini, coordenadora de projetos de pesquisa em finanças sustentáveis no Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.
Os assuntos serão desenvolvidos em quatro etapas: mapeamento de acompanhamento de tendências; disseminação de informações para nivelar o conhecimento dos profissionais do mercado; desenvolvimento de ferramentas práticas que permitam a mensuração, implantação e gerenciamento de temas específicos, como guias de padronização e planilhas de cálculo; e compartilhamento de boas práticas em encontros com integrantes.